Autores: Jovana Stojkovic / Vesna Trbic / Guilherme Zamboni Ferreira
Colaboradores: Sanja Lazin / Ivana Paunovic / Goran Rebic
Data: 25/03/2014

A cidade de São José tem mais de 250 anos de história
com um importante patrimônio que se deve preservar. Os imigrantes que se
instalaram na cidade contribuíram muito para o desenvolvimento econômico e
social da cidade e para a formação do município como importante centro de
distribuição de produtos. Neste período, a cidade possuía um centro conectado
ao mar, já que esse era uma importante via de transporte de mercadorias para a
capital. Além do transporte hidroviário, o centro da possuía uma vida
comunitária muito ativa em seus espaços de convivência. Infelizmente, aos
poucos, o centro foi perdendo a vitalidade e não teve o tratamento merecido.
Por tanto, a ideia principal de nossa proposta é
manter as características importantes de um centro histórico importante como o
de São José e adequá-lo a um contexto contemporâneo. Preservar as estruturas
significativas existentes e adaptá-las aos novos tempos. Também se pretende
entender as funções e atividades do antigo centro e reinterpretá-las sob nova
perspectiva. Ou seja: entender como era a cidade em sua época mais próspera e
criar espaços que possam destacar esses valores, além de propor novos usos.

Para conseguir isso foi necessário propor algumas
novas estruturas que buscam valorizar e dialogar com o patrimônio histórico,
formando uma nova identidade para o centro da cidade. Todo este processo foi
acompanhado pelos objetivos de manter a funcionalidade e a flexibilidade, com o
fim de criar um espaço urbano agradável e na escala de uma cidade em processo
de desenvolvimento.
Neste sentido, o reabilitado centro histórico de são
José se apresenta através dos seguintes objetivos:
1. Reconstrução
da Identidade do Centro Histórico
A cidade está se transformando constantemente. É
necessário respeitar sua historia e se possível, contribuir para um legado futuro,
onde o patrimônio forma uma rica herança a todos seus habitantes.
Para alcançar este objetivo se propõe as seguintes
intervenções:
-
Preservação e Valorização das Estruturas Pré-existentes
Na área em questão se pode encontrar algumas igrejas e
muitos edifícios do século 19 e do princípio do século 20. Todos eles devem
permanecer e seguir contando a história da cidade. Para destacar seu valor é
necessário ter uma estrutura urbana adequada. Desta maneira, em frente à igreja
Matriz de São José foi criado um grande espaço vazio, destacando o caráter
cívico do local, próprio para atividades coletivas e cerimônias religiosas.
Em frente ao casarão da família Gerlach, Casa de
Câmara e Cadeia e do Teatro Municipal Adolfo Mello a calçada foi aumentada com o novo mobiliário
urbano proposto e assim formando um espaço para atividades cotidianas e também
comunitárias como feiras ou exposições ao ar livre. O edifício Solar dos
Ferreira de Mello abriga a função de biblioteca internamente e faz frente com a
nova praça e anfiteatro formado pela escadaria de madeira da infraestrutura que
envolve ao ex-edifício da câmara.
Para os edifícios ao longo dos trechos 1 e 2, nova
pavimentação, ciclovias, novo mobiliário urbano e calçadas mais confortáveis
destacam o valor das construções antigas.
Além dos edifícios, o centro histórico conta com
natureza intensa para compor seu ambiente, e assim deve permanecer. Portanto, a
vegetação nativa da orla marinha foi preservada, assim como as pedras e a areia
existentes. A vegetação existente na Praça Hercílio Luz foi transplantada para
o parque Beco da Carioca, que tem como objetivo preservar 100% da mata nativa.
Nesse parque foi criada uma passarela de madeira que
percorre um trajeto sinuoso entre as arvores que tem como objetivo proporcionar
um contato maior com a natureza, além de gerar novos pontos de vista do centro
histórico e ao mar.
- Re-uso
Além dos edifícios existentes temos como objetivo
manter e melhorar todas as estruturas que possam colaborar com o aumento
qualitativo do centro. Portanto, o edifício do Centro de Saúde se transforma em
Hotel, melhorando as condições para o turismo. O Ginásio é convertido em
Estacionamento Náutico e faz parte da Marina Municipal que também foi criada em
mesmo local. Já o edifício da Câmara se transforma em ponto turístico e atende
a demanda com bares e restaurantes. Sobre o edifício se projeta uma
infraestrutura que eleva os visitantes a um mirante panorâmico, onde se pode
visualizar a capital Florianópolis e também o Centro Histórico.
Essa infraestrutura formada por três rampas, em
diferentes níveis, que acabam formando a praça elevada com vista para o mar,
que geram uma superfície ativa capaz de propor novos usos a partir da
interpretação do espaço por seus usuários e uma nova relação edifício-terreno,
pois é um híbrido entre arquitetura, espaço público e paisagem.
- Introdução de novas estruturas e usos
Em torno da Praça Arnoldo de Souza se propõe a
demolição de algumas de algumas casas e a construção de edifícios de dois
andares para o comercio local. O mesmo se propõe na Rua Xavier Câmara 98, junto
à Praça Hercílio Luz.
Abaixo das rampas que levam ao mirante se propõe um
espaço de uso flexível, que possa abrigar um estacionamento para 40 carros,
mercado, feira, centro de exposições, espaço para shows coberto, esportes ou
outros eventos comunitários.
Dentro do Parque Beco da Carioca foram criados
banheiros, quiosques para pequenos comércios e alimentação, além de um pavilhão
de eventos que pode receber espetáculos de dança, teatro, shows ou festas que
se aproveita da topografia para ampliar seu espaço dependendo do tipo de uso e
da quantidade de público.
- Restauração das antigas atividades
Como a maioria da Praça Arnoldo de Souza antes estava
ocupado por um campo de futebol, a intenção é resgatar o espírito de lugar de
recreação que este espaço público possui. E como boa parte da área foi ocupada
pelo então Edifício da Câmara, se perdeu essa vocação, que agora devolvemos à
população em forma de praça elevada e mirante.
Também a orla marítima passou a ser mais valorizada, e ganhou área de
recreação, com zonas de areia, zonas verdes, áreas de pesca, área para banho em
águas mais profundas e limpas, playgrounds para as crianças, aparelhos de
ginástica, área para esportes náuticos, etc.
- Preservação de memória
Para manter o espírito da cidade é importante não
esquecer seus antigos valores. Por exemplo, a pavimentação que antes era de
paralelepípedo foi recuperada para as ruas do entorno das praças, o que proporciona
uma maior capacidade de absorção de água pelo solo, diminui a velocidade dos
automóveis e resgata a memória do antigo centro. Outro ponto importante da
pavimentação diz respeito ao antigo desenho da Praça Hercílio Luz que está
gravado no chão deste espaço como uma tatuagem urbana que lembra como foi seu
antigo desenho e mantem viva a memória de seus antepassados.
Também é importante manter os monumentos que foram
relocados e agora aparecem em destaque em um ambiente vazio. Para o mobiliário
urbano se propõe novo desenho, mas se respeita os antigos usos e costumes
locais como, por exemplo, as mesas de jogos abaixo das árvores.
2. Flexibilidade
e Funcionalidade
O projeto de renovação do Centro Histórico de São José
pretende ter todos os espaços muito funcionais e flexíveis. Ambas as praças
podem abrigar usos diversos e são muito adaptáveis a inúmeras formas de
apropriação do espaço publico.
...
3. Priorização
dos pedestres e melhoramento da estrutura viária
Para ajustar o Centro Histórico ao uso dos pedestres
foi necessário fazer algumas mudanças na atual estrutura urbana. A parte da Rua
Coletor Irineu Comeli que passa em frente ao Teatro agora está integra à Praça
Hercílio Luz e forma um passeio público tipo “calçadão” servido por novo mobiliário
urbano e espaços sombreados que valorizam os importantes edifícios públicos que
formam parte da praça.
Do outro lado da avenida, junto a Praça Arnoldo de
Souza, a Rua Coletor Irineu Comeli passa a formar um espaço misto entre
pedestres, ciclistas e automóveis de pequeno porte, todos ao mesmo nível, e que
podem ter acesso controlado por balizas móveis dependendo do tipo de evento que
acontece na praça ou abaixo das rampas. O mesmo acontece do lado oposto da
praça, na também Rua Coletor Irineu Comeli que agora é uma nova rua, pois não
se conecta mais aos dois lados da praça.
A Rua Gaspar Neves, que divide as duas praças e
alimenta a rede de transporte público, formando a artéria principal de ligação
entre o Centro Histórico e a cidade troca de pavimento, passando de asfalto
para paralelepípedo quando atravessa o espaço público, que força a diminuição
da velocidade do tráfego, subindo ao nível da calçada, sendo separada apenas
por balizas, a rua se transforma em praça e propõe nova relação entre carros e
pessoas.
No restante da Rua Getúlio Vargas e Rua Doutor Homero
de Miranda, a largura da via diminui, fator que também obriga a redução da
velocidade dos veículos. Com essa operação, aparece espaço para uma ciclovia e
também para uma calçada mais larga e dentro das normas de acessibilidade.
4. Escala
urbana x Escala Humana
O projeto em si mesmo, se insere na cidade em escala
urbana, assim como suas praças, infraestruturas e orla. O que se buscou como
algumas operações, como a construção das rampas que levam ao mirante é
encontrar uma escala mais adequada ao local, uma escala que entre em harmonia
com a altura dos edifícios que conformam as praças e que pedem um espaço um
pouco mais comprimido, gerando uma escala mais confortável e humana ao espaço.
Esse mesma infraestrutura que gera um espaço multiuso também proporciona as
ruas que conectam as praças ao mar, uma largura mais humana, e que aproxima as
pessoas aos edifícios que estão construídos junto à calçada e assim resgatando o
espírito das ruas estreitas das vilas portuguesas do início do século 19 que se
formaram na região.
A escala humana é uma busca constante de nossa
proposta, e ela está representada por todas as partes, seja na largura das
ruas, seja na microtopografia dos platôs de madeira que estão distribuídos
pelas praças e outras partes da área de intervenção ou das escadarias que
formam espaços próprios para sentar-se e geram anfiteatros em diferentes
níveis, assim como a própria rampa que também se transforma em bancos durante o
trajeto de subida ao mirante.
5. Estacionamentos
A questão dos estacionamentos foi tratada com o
cuidado que merece uma cidade que ainda não dispõe de opções de transporte
publico que possa atender ao turismo e população local com a qualidade. Acreditamos
que todas as ruas no entorno do Centro Histórico podem funcionar como espaço para
estacionar e também propomos um estacionamento coberto que é multiuso,
entendemos que a convivência entre carros e pessoas é necessária no momento, e
que uma estrutura urbana flexível seja possível, então, optamos em dar prioridade à qualidade do
espaço e circulação de pessoas, sem esquecer que os carros são necessários. O
que propomos é uma zona mista entre carros, pedestres e bicicleta em uma parte
da Rua Coletor Irineu Comeli, como já foi mencionado anteriormente, além
de vagas de estacionamento / ponto de
taxi com uma posição central dentro do complexo, junto à avenida e à paradas de
ônibus, priorizando os transportes coletivos e beneficiando aos taxistas locais.
6. Ciclovias
Com a diminuição da caixa de rua nos trechos 1 e 2
conseguimos formar uma malha ciclo-viária que conecta o trecho 2, passando pelo
complexo do Centro Histórico , trecho 1 e se conecta à ciclovia existente na
Avenida Beira-Mar, e assim possibilitando segurança aos ciclistas.
7. Materiais
A escolha dos materiais das intervenções tem como
objetivo a sustentabilidade, o conforto e a leveza, sendo assim todas as
instalações, como por exemplo, a rampa que cobre o edifício da Câmara, está
projetada com estrutura metálica para os pilares e vigas e madeira de
reflorestamento para piso e fechamentos (brises) que contribui para o caráter
efêmero da intervenção. Este tipo de material também colabora para a rapidez e
limpeza para execução, sendo assim, de baixo impacto e alto resultado. Todos os
materiais escolhidos são encontrados na região, o que também colabora com a
natureza e gera economia de obra e fortalece a indústria local.
8. Mobiliário
Urbano
A proposta de mobiliário começa pela escolha dos
materiais. Buscamos nos inserir no contexto urbano de São José de forma pontual
e que possa ser facilmente adaptada à realidade atual, sem exigir grandes
custos para sua instalação. Primeiramente, a madeira, que é o material que
proporciona o conforto desejado para sentar-se ou para quando se quer encontrar um
local de descanso. Por ser um material de pouca capacidade para absorver as
temperaturas externas, mostrou-se o mais adequado aos objetivos propostos.
Junto à madeira, colocamos o metal, que nos dá a
resistência, flexibilidade e leveza. Com esses dois elementos, formamos um catálogo de mobiliário modular
que foi distribuído por toda área de intervenção e que combinados, geram
diferentes ambientes e muitas vezes possibilitam formas de interpretação de uso
variadas, assim gerando diferentes apropriações destes espaços ou mobílias.
Da mesma maneira que as rampas, passarelas e outras
intervenções de maior porte, o mobiliário, principalmente os bancos e deques,
buscam uma relação de continuidade e conexão com o solo. Sempre fazendo questão
de formar uma relação ambígua entre o espaço de caminhar e o espaço de sentar.
Essa relação gerada em diferentes escalas do projeto gera liberdade de uso e
facilita a acessibilidade por todas as partes.
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