PROJETO SELECIONADO PARA EXPOSIÇÃO EM BELO HORIZONTE - MG














Imagem: Proposta dOBRA

Projeto dOBRA foi selecionado para exposição Outros Territórios no Viaduto das Artes em Belo Horizonte.
A proposta foi elaborada para o Concurso Outros Territórios em coautoria com arq. Ana Laura C. Nunes e Rodrigo Guidini.
"Outros Territórios é um conjunto de intervenções efêmeras que serão propostas para um bairro montanhoso
em Belo Horizonte: o bairro Buritis. Será uma mudança instantânea em sua paisagem através da
ocupação de diversas “palafitas” (vigas e pilares aparentes sob os edifícios) ao mesmo tempo.
Uma gama de espaços esquecidos, ignorados e inusitados serão trazidos para a vida da cidade por meio de
um evento que irá propor um campo de estudo aberto: as possibilidades latentes da cidade existente. Será
uma oportunidade para testar novas ideias, trocar experiências e despertar sensibilidades; uma maneira de
mostrar que pequenas intervenções podem gerar transformações duradoras (seja em termos materiais ou
institucionais) com recursos limitados; e ser um instrumento para se pensar soluções alternativas na recomposição
urbana de um tecido esgarçado como é o de Belo Horizonte. Projeções de vídeo, light art, peças de
teatro, horticultura, intervenções paisagísticas, pintura, objetos, construções efêmeras e esportes radicais
são algumas das muitas possibilidades de ocupação desses espaços." (https://www.outrosterritorios.com.br)






















Imagem: diagramas da proposta


PROBLEMATIZAÇÃO

As palafitas são fruto de uma verticalização inconsequente
que pouco se relaciona com a topografia da região em
debate, e que demonstra a capacidade nociva do mercado
imobiliário quando mal equalizado pelo poder público. Como
resultado desse processo de construção acrítica temos uma
série de espaços residuais que podem ser considerados
não-arquiteturas, espaços indefinidos que servem apenas
de suporte para a sustentação de apartamentos e garagens
que se repetem ao estilo da mais ineficaz produção em
série. Isto representa um tipo de produtivismo arquitetônico
que revela que o interesse desse tipo de empreendimento
está diretamente ligado, quase que exclusivamente, aos
lucros do investidor. Nessa lógica, pouco importa o seu resíduo,
a sobra desse processo de construção, que nada mais
é que um subproduto da chamada arquitetura de mercado.
Se os índices construtivos forem alcançados e o valor de
troca for satisfatório, o edifício é só consequência. Portanto,
a proposta, assim como acreditamos aqui, deve se apresentar
como um manifesto daquilo que o próprio mercado
responsável por esse tipo de empreendimento entrega aos
cidadãos e moradores de Buritis como sendo o “pacote completo”
de sua realização, ou seja, a sobra de sua própria
incapacidade de dar uma resposta adequada na sua globalidade
aos locais onde propõem suas intervenções. Esse
vazio que a obra deixa, infelizmente, também é um vazio
existencial da própria arquitetura nesse momento, pois é
ela, ao fim, que materializa e chancela os interesses dos
clientes. Esse vazio se revela no descaso com os impactos
paisagísticos e urbanísticos provocados por esse modelo de
empreendimento, onde os projetos saem dos cálculos de
investimentos quase que diretamente para os órgãos de
aprovação municipal, fazendo do arquiteto, mero instrumento
para sua formalização. É através dessa insatisfação
manifestada pelo texto que surge a pergunta: como utilizase
desse(s) espaço(s) fazendo de sua existência um
manifesto contra alienação de sentido, já que este é
provocado justamente pelo egoísmo de sua lógica edificante?
Partindo dessa questão buscamos uma forma de
expor uma espécie “problematização” ampla dessas questões.
E para isso, iniciamos nosso processo projetual pensando
a partir da lógica da montagem segundo o filósofo
francês Georges Didi-Huberman, ou seja, criando uma rede
de relações subjetivas relacionadas ao objeto-problema
para que possamos multiplicar os pontos de vista de nossa
abordagem. Nesse sentido, a ideia de montagem que propomos
aqui teria conexão com uma lógica fragmentária do
pensamento partindo de imagens relacionais. É algo que
nos remete à ideia de incompletude e pensamento lacunar
que pode também estar relacionado à ideia de caos e desordem,
mas que a partir do próprio processo, fosse possível
criar um espaço “entre” a proposta e o que se pode ver a
partir de nosso objeto de intervenção. “A montagem seria
um método de conhecimento e um procedimento formal
nascidos da guerra, capaz de apreender a ‘desordem do
mundo’”. (Georges Didi-Huberman)















Imagem: corte e vista frontal

NOME (contexto)

A palavra obra sugere um trabalho realizado ou em andamento,
traz consigo a ideia de processo. Já uma obra arquitetônica,
como um edifício remonta a uma construção
dotada de intenção estética e técnica definidas intelectualmente
por um indivíduo ou um grupo com o objetivo de
abranger, em sua totalidade, uma série de questões relativas
também ao seu contexto social, territorial e natural, não
se limitando apenas ao simples jogo racional de forma e
função, tampouco se refere a mero instrumento do mercado.
Já a palavra dobra (como substantivo) remete a parte de
algo que se sobrepõe a outra parte. Uma dobra, portanto,
seria uma espécie de mudança de direção que pode causar
uma série de dobramentos e desdobramentos. Na filosofia,
Leibniz e depois Gilles Deleuze se debruçaram sobre esse
tema e nos demonstram que a dobra nas artes possibilita
um entendimento de fenômenos complexos ad infinitum. Ao
nomear este trabalho de dOBRA juntamos a intenção de
um processo em andamento, uma visão de algo inacabado
como as palafitas em questão, com a ideia de mudança de
direção em vista de novos desdobramentos, novas direções.
Nesse sentido, o ato de nomear um lugar ou algo com o
sentido em suspensão como as palafitas é um gesto que
tem por objetivo uma abertura que busca indexar através de
um novo nome aquilo que a própria linguagem carrega
consigo. Talvez não para lhe dar um novo sentido, mas para
efetuá-lo de outra maneira ainda indefinida, e que não é nem
obra nem dobra, mas referente a algo que d’OBRA o rejeito
deixado pelo mercado em forma de subproduto inutilizado.

MONTAGEM

















OBJETIVOS

O objetivo é discutir o padrão de projetos arquitetônicos de
habitação, que se replicam ao longo de todo o território
nacional. As soluções impensadas minam a construção civil
do país e se tornam problemas que abrangem escalas maiores
do que somente a do terreno. Entende-se que a discussão
é polifônica e a proposta pretende lançar luz sobre
alguns dos tantos questionamentos e conflitos existentes.

MATERIALIDADE

Para representar a dOBRA, buscamos uma conformação que expressasse
uma mudança de direção, algo como uma tomada de decisão que
envolvesse certa instabilidade manifestada pela forma da instalação
integrada ao espaço-resto, a representação de uma segunda chance ao
que mercado nos entrega em forma de projeto de habitações-produto.
Nesse sentido, a abstração formal surge como recurso retórico. Suas
formas fazem referência à imensidão do universo que seria vencida por
uma dobra (topológica e hipotética) do espaço-tempo, segundo a teoria
dos wormholes. Essa decisão projetual, assim como propomos aqui,
devolveria ironicamente aquilo que no contexto das palafitas, parece ter
sido a solução adotada simplesmente para vencer o desnível do terreno
e facilitar o acesso. Assim, esta espécie de atalho, agora aparece misturada
a um tipo de distorção ou dOBRA que seria configurada por um
único túnel com, ao menos, duas “bocas”, conectadas entre si. Na centralidade
da Palafita Gigante I, uma das aberturas do buraco de minhoca
encosta no solo do Bairro dos Buritis enquanto a outra se posiciona na
face da laje inferior do primeiro pavimento. Ao criar essa conexão, pretende-
se explicitar o atalho, a dobra feita para (in)adequação do projeto
arquitetônico ao local. A cor vermelha serviria para dar visibilidade à
estrutura, uma vez que não se propõe acesso à palafita.

 PALAFITA GIGANTE 1

















A EXPOSIÇÃO







0 comentários:

 

Flickr Photostream

Twitter Updates

Meet The Author